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Comportamento desmotivador

porIrene Maluf

Comportamento desmotivador

Críticas e comparações, não indicam novos caminhos, não ajudam a melhorar a performance e nem tornam as crianças e jovens mais fortes e determinados para enfrentar e superar as próprias frustrações.

Comparar é de modo geral, relacionar sejam coisas animadas ou inanimadas, concretas ou abstratas, da mesma natureza ou que apresentem similaridades, para conferir as semelhanças ou diferenças que entre elas existem.

Constitui uma das operações mentais mais importantes, que nos permite
desenvolver a aprendizagem e adquirir conhecimentos e comportamentos cada vez mais complexos, fazer escolhas inteligentes e instrumentaliza-nos a sermos capazes de optar por aquilo que nos favorece.

Assim, é desejável que se aprenda a comparar e que se ensine às crianças a
usar essa ferramenta mental que pode ser um guia seguro em diversas
situações de desafiadoras ao longo do desenvolvimento: quem não compara, não classifica e quem não classifica, não analisa, não sintetiza, não compreende, não transfere saberes e competências a novas situações.
Mas nem sempre a comparação é de ordem objetiva, principalmente se
falamos sobre relações humanas, em que a subjetividade é um campo comprometido por experiências passadas e pelo viés da personalidade de cada um.

Nas relações humanas, quando a comparação é realizada sob emoções
descontroladas, acaba por servir de estopim para o surgimento de muitos
percalços no desenvolvimento de valiosas habilidades latentes, que terminam por se perder. A comparação nesse caso torna-se, uma crítica não construtiva e fonte de sofrimento emocional que se desdobra em baixa autoestima e problemas comportamentais em adultos e principalmente nas crianças.

O Ser Humano é de natureza física, mental emocional intricadas, possui
características individuais, que constituem seu diferencial no mundo e
distinguem do outro sem que perca, entretanto, a humanidade que o une aos semelhantes, como espécie, esteja em qual cultura estiver.

Pode-se dizer que é dessa complexa interrelação entre as semelhanças e
diferenças das pessoas, adultas e crianças, que se embasa boa parte dos
desafios educacionais em todos os aspectos e níveis em que se pratica, desde o familiar, ao acadêmico, ao social, ao mundo profissional, entre outros que as pessoas vão estabelecendo durante o desenrolar da vida.

Um cuidado maior se deve ter quando as relações são familiares e se dão
entre pais, professores e crianças, pois é a partir dessa fase inicial que s
desenvolverão as potencialidades de cada um ou se criarão barreiras ao seu crescimento saudável.


É inevitável, nós adultos pensarmos em termos de comparação, até porque
muito do que aprendemos foi, e é construído mentalmente por comparação e exclusão. Quando se tratam de objetos ou situações quantificáveis, objetivas, em geral só obtemos vantagens usando dessa operação mental tão estudada pela psicologia e pela educação. Mas nos relacionamentos familiares, na educação infantil, a questão passa por importantes crivos como a motivação, a frustração, as expectativas e o potencial de cada um.

A frustração por exemplo, que advém da diferença entre nossa pretensão e o resultado obtido, deve ser compreendida pelo adulto sob um olhar pessoal e não na relação com o outro, principalmente se tratando de crianças que são seres em desenvolvimento e para quem críticas familiares são parâmetros poderosos. Uma derrota inesperada, notas baixas, uma repetência já anunciada, uma decepção que seja mal trabalhada pela família, pode implementar uma imagem negativa que a criança projetará de si mesma, de sua capacidade pessoal para o desempenho escolar por exemplo.


O papel que os adultos exercem em relação aos filhos, não é de forma alguma o de aplaudir sempre, elogiar sem motivos, mas o cuidado deve ser
semelhante ao fazer críticas e comparações com outros, especialmente
quando as suas próprias aspirações pessoais não forem atingidas pelos filhos.


Não se pode projetar mentalmente e exigir na prática, que teremos em casa um campeão esportivo ou o aluno com as melhores notas da classe e cobrar isso de nossos filhos. Devemos os incentivar a alcançar o seu melhor, através do estimulo ambiental, da oportunização de experiências valiosas, da motivação, da atenção diária, do apoio material e emocional e depois receber com tranquilidade o resultado de seu esforço, sem elogios vazios, sem frustra-la ou magoa-la, através de comparações com nossos padrões pessoais ou com a performance de outras crianças. Devemos ter em mente que comparações negativas causam mágoas, ressentimentos, marcas importantes e indeléveis especialmente quando são oriundas da opinião das pessoas que mais amam e querem agradar nesse mundo: seus pais.


A própria desmotivação escolar, muitas vezes se origina nas comparações
entre irmãos ou mesmo coleguinhas, feitas de modo pouco adequado pelos
adultos. É necessário haver um referencial positivo sim, mas guardado o
respeito pelo potencial particular e fatores ligados a individualidade e história de vida de cada um, sob o risco de gerar um sentimento de inadequação pessoal altamente impactante em novas tentativas de acerto.


A crítica, que é produto da comparação mal dirigida, leva a um movimento de afastamento entre pais e filhos: enquanto os primeiros, decepcionados e
frustrados nos seus desejos pessoais se lastimam, os segundos sofrem
duplamente a derrota, por sim mesmos e pelos seus familiares que frustraram, gerando culpa, medo, desânimo.

A experiência mostra que adultos frustrados, que desejam alcançar através dos filhos seus próprios sonhos perdidos, criam uma cadeia infinita de fracassados.

Mas também nos ensina que adultos equilibrados fazem críticas positivas e
comparações motivadoras aos filhos, estimulam e apoiam as crianças a se
empenharem sempre e apontam para a importância de serem bem-sucedidas na medida de suas potencialidades, no que particularmente desejam e tem habilidades pessoais.

Sobre o Autor

Irene Maluf editor

Pedagoga; Especialista em Educação Especial; Psicopedagogia e Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia -ABPp (triênio 2005/07) e Editora da Revista Psicopedagogia (2003 a 2016); Atualmente é membro do Conselho Vitalício e da Diretoria Executiva da ABPp além de participar do Conselho Executivo da Revista Psicopedagogia.Organizadora, co-organizadora e co-autora em diversas publicações no Brasil e Exterior e autora de artigos na área da Psicopedagogia e Neuroaprendizagem em livros e revistas nacionais e internacionais.Palestrante em cursos e congressos no Brasil e no exterior. Sócia-Honorária da Associação Portuguesa de Psicopedagogos (2003). Trabalha em consultório de psicopedag ogia desde 1976, com experiência na área de Educação Regular e Especial, ênfase em Psicopedagogia e Neuroaprendizagem. Participa de grupos multidisciplinares .Perita Judicial . Diretora do Núcleo de Aperfeiçoamento Profissional em Psicopedagogia e Neuroaprendizagem Irene Maluf. É Coordenadora Pedagógica dos cursos de pós graduação Lato Sensu do Instituto Saber Cultura/FTP- Núcleos Sul e Sudeste Brasileiro- em Neuroaprendizagem, Transtornos do Aprender, Psicomotricidade, Cognição e Psicopedagogia, desde 2009 e do Mestrado em Ciencias da Educação da FTP/Unades.

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