O número de casais que se separam atualmente é sem dúvida muito expressivo e isso pode ser constatado também nas escolas, onde é comum vermos crianças relatando que viajarão para a casa do pai nas férias, que vão à casa da mãe no próximo final de semana, que ganharão irmão quando a mãe se casar com o novo namorado pois este trará seu filho para morar com eles, etc
Se há trinta ou quarenta anos atrás, era um fato constrangedor ser filho/filha de pais separados e de um segundo casamento quando ainda não havia divórcio ou mesmo, ser a segunda esposa em uma época em que as aparências gritavam mais forte que o desejo e o direito de ser feliz, hoje a maioria das pessoas adultas compreende e apóia a nova configuração familiar, desde que esta mantenha valores éticos e morais na sua conduta e na educação dos filhos. A situação das novas famílias, criadas após a regulamentação do divórcio e os novos casamentos, nos trouxe uma revisão de conceito de família e em geral uma aceitação mais humana e menos crítica das novas opções de vida que as pessoas escolhem para si e para seus filhos.
Entretanto, nem por isso, a separação do casal passou a ser um momento menos doloroso para eles próprios e seus filhos não deixaram de sentir as mudanças que trazem inevitavelmente o morar sem um dos pais. Talvez mais acostumados a ver seus coleguinhas em idêntica situação, as crianças aceitem atualmente com mais naturalidade as suas novas condições de vida, na certeza de que sobreviverão e que continuarão a ter pai e mãe, mesmo morando em casas separadas. Mas, os primeiros meses não costumam ser fáceis mesmo para quem já se habituou a acompanhar situações similares e nem para quem até quisesse ver os pais pararem finalmente de brigar. Além das diferenças individuais e das condições que precedem o divórcio, em cada faixa etária, as crianças recebam de modo diverso o rompimento familiar e freqüentemente as conseqüências aparecem no seu rendimento escolar.
Após essa idade e até os seis anos, as crianças vão adquirindo maiores noções da realidade e já é possível conversar com elas, o que minimiza sua insegurança e medo de ser abandonado ou esquecido, apesar de que é comum voltarem a sofrer de enurese, terem pesadelos noturnos, ficarem com sentimentos de culpa e passarem a ser muito obedientes julgando que assim o pai/mãe que saiu de casa retornará .Podem ao contrário se tornarem agressivos, rebeldes,passarem a tentar enganar a si próprios e aos demais dizendo por exemplo à professora e aos coleguinhas que os pais continuam juntos e felizes.
Dos seis aos nove anos, é freqüente que após um período de tristeza, passem a desenvolver fantasias de reconciliação, ao mesmo tempo que sofrem com sentimentos antagônicos de raiva e saudades do pai que saiu de casa, ampliados pelos conflitos conjugais e as brigas pós separação, que acabam por provocar confusão entre o amor devido aos pais e o sentimento de lealdade àquele que mais perdeu com o rompimento. Em algumas famílias, as questões financeiras ou a falta da presença rotineira do pai ou da mãe, coloca as crianças na posição de cuidadores dos irmãos, o que é uma responsabilidade muito acima de suas reais possibilidades e que acarreta prejuízos na aprendizagem na maioria dos casos semelhantes.
Entre os nove e doze anos é comum ainda se assistir às tentativas infantis de reconciliar os pais logo após a separação, mas como já têm outros interesses pessoais, a raiva , a confusão de sentimentos e o senso de realidade começam gradativamente a dar lugar a uma aceitação mais tranquila da nova situação.
Em geral, se a família se separa quando os filhos são adolescentes e estes foram educados dentro de normas claras, com respeito aos pais e com responsabilidade pessoal e familiar, tenderão, apesar de sentirem a mágoa da separação, a ter um comportamento cada vez mais imparcial, amadurecido, aceitando os fatos e colaborando no que for possível com todos. Mas condutas anti-sociais também se revelam fortemente nessa faixa etária, quando o processo de separação é por demais violento, quando o jovem não percebe ainda seu papel e deveres com a família e principalmente quando uma educação sem limites ou valores morais, começa a dar mostras de seu resultado, independentemente de haver ou não harmonia no lar.
O divórcio das famílias é uma experiência que sempre deixa marcas profundas, pois no mínimo significa para o casal um projeto de vida que fracassou e do qual os filhos foram mais do que simples expectadores. Mas desse momento de fragilidade, com sabedoria, pode-se tirar lições importantes para o futuro e ainda ajudar os filhos a superarem essa fase, saindo dela mais fortalecidos , equilibrados e preparados para enfrentar a própria vida.
As crianças não nascem com noções de responsabilidade: é preciso que os pais lhes incutam esses valores através de exemplos e da cobrança de comportamentos que suscitem tais princípios.
Se o pai falar ao filho: pode pegar sem pagar o sorvete no mercado porque é barato , isso abre o mesmo precedente de falar pode faltar porque amanha vai ser véspera de feriado mesmo…No mercado podem chamar a polícia , na escola não, mas seguramente o pai vai ser chamado na hora da repetência por faltas, quando o filho for mais velho e decidir não ir…
Criar filhos comprometidos com suas obrigações exige certa dose de determinação dos pais e não dispensa que esses dominem seu desejo de exercitarem a excessiva benevolência – que se torna negligência – muitas vezes em prol de seu próprio desejo e conforto.
É muito comum se ouvir falar em medidas preventivas em relação à saúde, às finanças, à segurança, aos desastres naturais, às quebras e estragos das grandes e pequenas máquinas, mas dificilmente se pensa, com igual preocupação, em realmente estabelecer uma estratégia lógica e eficaz, em definir e aplicar tais ações em relação à educação.
O problema é que muitas vezes pensamos em educação como um conjunto de ações naturais que se vai optando adotar conforme as situações mais ou menos graves apareçam.
Um exemplo que se pode dizer “clássico”, ao se abordar a falta de planejamento educativo, é o problema enfrentado pelas famílias sobre deixarem ou não os filhos faltarem na escola nas vésperas de feriados para “esticarem” as já muito longas “pontes” que existem entre datas comemorativas e finais de semana.
A princípio, pode parecer que a criança não perceba porque ainda está na pré escola, por exemplo, mas ela vai sim se dar conta no regresso do passeio, quando os coleguinhas e a professora fizerem referência a brincadeiras e aprendizados nos quais ela esteve ausente. E se o fato ocorre várias vezes, passará como corriqueiro para a criança que ao crescer não achará sentido algum em ir as aulas quando não sentir vontade de ir, pois afinal, os seus próprios pais legitimaram as faltas em detrimento da responsabilidade e do comprometimento no passado.
A escola é a entrada da criança na vida social e até laboral, por assim dizer. É importantíssima a maneira como a família lida com essa instituição , pois marca a forma como os pequenos vão começar a ver, sentir e perceber a maneira como deverão encarar seus compromissos para o resto da vida.