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porIrene Maluf

Já ouviu falar em TANV?

Ler, escrever, calcular, não são tarefas fáceis para quem sofre de um Transtorno de Aprendizagem, apesar do empenho e da vontade de aprender.

Uma série de dificuldades, na hora de adquirir novos conhecimentos escolares, dificilmente superáveis, é enfrentada por cerca de 10% das crianças, apesar destas não apresentarem defasagem cognitiva ou problemas sensoriais que os justifiquem.

 Tal quadro, vem despertando em profissionais de diversas áreas, interesse em conhecer não apenas a origem, mas a melhor forma de intervir e auxiliar os portadores de tais Transtornos, a desenvolverem habilidades escolares similares a seus pares.

Equipes multidisciplinares debruçaram-se ao longo destes dois últimos séculos nos estudos e pesquisas de toda ordem, para tentar alcançar esses objetivos. Por conta desse interesse e comprometimento, é possível hoje termos acesso, através não apenas dos meios acadêmicos, dos livros e congressos, mas através da internet, da imprensa, da mídia em geral, às informações, que selecionadas, podem nos ajudar a estar sempre atualizados, como pais ou como profissionais.

 Assim por exemplo e com grande frequência, ouvimos falar da dislexia, um transtorno de aprendizagem decorrente de prejuízos neurobiológicos, especialmente localizados no hemisfério esquerdo do cérebro, que promovem grandes dificuldades na leitura, dificultando sobremaneira a escolaridade da criança. Os estudos sobre a Dislexia, datam do século XIX e embora ainda existam muitos pontos a serem esclarecidos, sem dúvida é um transtorno do qual, a grande maioria dos educadores tem certa familiaridade e acesso ao conhecimento tanto dos meios de identificação, como das melhores formas de direcionar a criança a atendimentos especializados. primeira vez o termo discalculia (Henschen). Considerada uma imaturidade cerebral das capacidades matemáticas, não manifestando desordens nas demais funções mentais generalizadas, pode ser identificada a partir da pré escola, e diagnosticada quando a criança tem ao menos dois anos de escolaridade do ensino fundamental e não consegue superar dificuldades na compreensão dos números, nas habilidades de contagem e na solução de problemas verbais, entre outros. Pode ser diagnosticada em adultos, que após muitos anos de sofrimento, enfim encontram a razão de suas dificuldades marcantes na matemática

O Transtorno de Aprendizagem Não Verbal, TANV, talvez seja o menos conhecido dos profissionais da educação. Devido à semelhança com o perfil comportamental observado em crianças e adultos com lesões adquiridas no Hemisfério Direito algumas vezes é citado como de Síndrome do Hemisfério Direito. Na verdade, tais danos neurológicos raramente são causadores desse Transtorno, sendo muito mais frequente, que comprometimentos nas conexões neuronais da substancia branca do cérebro, levem a tal quadro.

Apresenta baixa prevalência, sendo menos freqüente do que a Dislexia e a Discalculia, o que por um lado prejudica as pesquisas, torna o TANV pouco conhecido por boa parte dos profissionais da educação e da psicopedagogia.

Assim também ocorre com a Discalculia, um distúrbio neurobiológico que interfere na aprendizagem da aritmética e gera dificuldades para no trabalho com os números, cálculos, espacialidade e sequência lógica.  Foi em 1920 que se utilizou pela ia, etc. E, por outro, mantém um bom número de crianças e jovens sem o devido diagnóstico e tratamento!

Os portadores de TANV são altamente verbais e leitores fluentes, ao contrário do que a expressão “não verbal”, à primeira vista, possa levar a pensar. Possuem boa capacidade de decodificação no reconhecimento das palavras e na codificação na linguagem escrita e usam impecavelmente o vocabulário evidenciando excelentes habilidades de memória auditiva.

 

Foram Johnson & Myklebust os primeiros a usaram o termo Transtorno de Aprendizagem Não Verbal para descrever um grupo complexo de dificuldades, de base neurológica, cujas manifestações prejudicavam não só a aprendizagem acadêmica como a interação social de seus portadores.

As crianças portadoras de TANV, possuem geralmente disfunção marcante em três áreas: a motora, a viso espacial e da cognição social. Suas dificuldades motoras, se percebem nos problemas de coordenação, no equilíbrio, na motricidade fina. Frequentemente demonstram dificuldades para aprender a andar de bicicleta, para amarrar os cadarços dos tênis e nas atividades esportivas.

Não conseguem distinguir rapidamente as diferenças entre formas, tamanhos, quantidades e comprimentos e apresentam dificuldade em calcular distâncias, devido aos déficits no reconhecimento visual, nas relações espaciais e na percepção. Esse quadro, de prejuízos relacionados à condição viso espacial prejudicada, justifica seus problemas conceituais na compreensão e raciocínio matemático marcante.

A restrita habilidade para compreender comunicações não verbais ou seja, para regular as habilidades básicas necessárias para sustentação das relações interpessoais, revelam seus déficits na cognição social. Apesar de motivados a se aproximarem das outras pessoas, enfrentam dificuldades em se ajustarem a situações novas e complexas como aquelas que a socialização exige, pois apresentam frequentemente problemas em compreender situações sociais corriqueiras, linguagem corporal e expressões faciais.

Trata-se de um transtorno que causa um forte impacto na esfera emocional, social e na vida acadêmica de seu portador. Em geral aprender a ler rapidamente mas os problemas vão aparecendo sobretudo quando a criança, a partir dos dez ou onze anos, ingressa em uma fase da escolaridade onde ampliam-se as exigências em áreas nas quais, o portador do TANV, apesar de ser inteligente, encontra suas maiores dificuldades, como na interpretação de textos e na aprendizagem de teorias e conceitos científicos que requeiram a análise e integração mais complexa, por exemplo.

Nas avaliações psicopedagógicas e neuropsicológicas, apresentam habilidades matemáticas inferiores às de leitura e soletração. Tanto o diagnóstico quanto a intervenção do TANV, devem ser realizados por equipe. Durante a intervenção, os psicólogos geralmente trabalham com a terapia cognitivo-comportamental a qual permite o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento e de desenvolvimento de habilidades sociais, e os psicopedagogos fazem suas intervenções a partir das dificuldades de aprendizagem acadêmica encontrados. Em alguns casos, é necessário também um fonoaudiólogo na equipe.

Em relação a escolha de escola e método de ensino, essas crianças desenvolvem-se melhor em escolas que adotem métodos tradicionais, que oferecem instruções mais verbais, explícitas e exigem prática repetitiva até que o aluno aprenda, o que os favorece frente a sua excelente memória auditiva. Porém, é o perfil de desenvolvimento da criança a intensidade dos déficits apresentados e a análise objetiva do prejuízo que o TANV trás à vida de seu portador, que vai determinar as melhores alternativas de intervenção, as orientações à família e à escola.

O desenvolvimento da ciência e das neurociências nas últimas décadas, trouxe novos e multidisciplinares conhecimentos acerca dos transtornos de aprendizagem, ampliando as possibilidades de se realizarem diagnósticos diferenciais, indispensáveis para uma intervenção psicopedagógica mais eficaz.

 

 

 

porIrene Maluf

A alfabetização antecipada pode prejudicar aprendizagem dos pequenos

Alfabetizar significa compreender o funcionamento do Código Alfabético. Esse código refere-se à correspondência entre as letras do alfabeto (grafemas) e os fonemas da língua que eles representam. Corresponde a um complexo processo, que não começa exatamente nos bancos escolares, mas neles se desenvolve e solidifica. Obviamente existe uma parcela (ínfima) de crianças que se alfabetizam praticamente sozinhas, mas não é de longe uma regra, pois esse procedimento exige planejamento, estímulo a partir de competências, de habilidades individuais, e vai sendo concretizado através de trocas com o meio, de treino, de oportunidades de aprendizagem variadas.

 

Mas, recentemente, o quadro se complicou com o anúncio da terceira versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) pelo Ministério da Educação, que antecipa para o segundo ano a alfabetização plena das crianças. A discussão é ampla, mas já se inicia por um fato prático: reduzindo o tempo final para a consolidação dessa aprendizagem, a solução será usar dos últimos anos da educação infantil para o início da alfabetização, o que já é feito por algumas escolas, especialmente as particulares. E há famílias que apoiam e até buscam esse tipo de conduta…

 

Afirmar que dessa forma aproximaríamos o rendimento das crianças do sistema público de ensino às do ensino particular não basta, até porque não se encontrou até hoje vantagem alguma em fazer uma criança se tornar um leitor precoce. Além disso, os resultados da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) de 2014 apontaram que a proposta atual não está dando resultados positivos: 20% dos alunos da rede pública que frequentam o quarto ano (10 anos de idade) não sabem ler adequadamente. E os resultados das escolas particulares nem sempre são diferentes.

 

Oferecer uma boa pré-escola foi o caminho que países de educação reconhecidamente de qualidade encontraram: deixaram para o ensino fundamental o aprendizado formal da leitura e escrita, deram tempo para que neurologicamente a criança alcançasse um grau de desenvolvimento que lhe permitisse aprender sem prejuízo a outras atividades igualmente importantes para seu amadurecimento global.

 

Não foi uma decisão impensada: foi fundamentada em estudos científicos que mostram que o cérebro infantil precisa desenvolver-se durante os seis primeiros anos de vida através de atividades como brincar, exercitar-se com dinamismo, correr, experimentar coisas novas com crianças da mesma idade, ampliar a linguagem, a atenção, a memória, sensibilizando-se para o mundo das letras por meio de contato com histórias, dramatizações, músicas, artes.

 

Determinar que a consolidação da alfabetização, ou seja, que a criança seja capaz de codificar e decodificar com autonomia, atribuindo sentido a textos e escrever textos compreensíveis por outros leitores ocorra no segundo ano do ensino fundamental (aos 7 anos de idade), em todas as escolas, é um objetivo ambicioso e tangível para uma parcela de nossas crianças, mas não sem ônus para elas e para seus professores. Além disso, saber ler e escrever perfeitamente aos 7 anos não evita problemas na vida escolar e não garante o sucesso profissional futuro, nem muda o quadro da educação brasileira.

 

Estender até os 8 anos o processo de alfabetização não significa perda de tempo, pois a criança estará desenvolvendo outras múltiplas habilidades e adquirindo novos conhecimentos compatíveis com seu neurodesenvolvimento, sua cognição, capacidade psicomotriz, socioemocional, todas fundamentais para as outras aprendizagens que virão.

 

Para conferir o artigo na íntegra garanta a sua revista Psique Ciência & Vida Ed. 136 aqui!

Adaptado do texto “O ABC da controvérsia”

Fonte: Revista Psique – Por Maria Irene Maluf* | Foto: 123 Ref | Adaptação web Caroline Svitras

porIrene Maluf

“Meu filho não mente”…será?

É sem dúvida muito importante que os pais confiem nos filhos e demonstrem possuir esse sentimento em relação a eles. Afinal se os próprios familiares não depositarem sua confiança em quem criaram, então, pouca chance terão essas crianças e jovens de acreditarem em si mesmos, um dia.

É certo também, que ninguém gosta de admitir que o filho mente, e por isso é freqüente que os pais fiquem muito desapontados quando percebem que este não disse a verdade ou toda a verdade. Alguns se protegem dessa frustração dizendo que a criança é muito criativa, inventiva, cheio de imaginação. Mas admitir que o filho seja mentiroso é muito difícil, pelo menos publicamente , para a grande maioria dos pais.

Entretanto, há alguns fatos que todos os familiares devem saber para não passarem por ingênuos e nem serem usados pelos filhos em situações enganosas, nas quais a criança e o jovem sendo sua própria vítima.

Em primeiro lugar, é bom lembrar que mentir não é sempre o contrario de dizer a verdade. Mentir é distorcer propositadamente ou não os fatos, quer porque a idade cronológica não permite que a criança distinga perfeitamente a sua fantasia mental e a realidade do mundo externo, quer por que tem medo da represália paterna ou porque quer ostentar algo perante os demais .

A razão pela qual não se considera mentira o que as crianças com menos de 5 anos contam é que a imaginação infantil tem forte ligação com as emoções que a realidade desperta nela e elas reagem aos sentimentos falando coisas que nem sempre tem relação com o ocorrido. Confundem a fantasia interna com os fatos da realidade e não tem ainda controle sobre isso.

É por volta dos 6 anos, que a fantasia infantil começa a dar lugar a um pensamento mais concreto, e cada vez mais próximo do pensamento do adulto e começam a ter condições de distinguir de forma gradativa a fantasia do que é real .

Em segundo lugar, há crianças que mentem buscando compensar alguma coisa que acreditam ter a menos do que os outros. É quando inventam por exemplo que a família tem muito dinheiro, que foi o melhor da classe em tal campeonato, que tem vários irmãos e, na realidade, nada disso acontece.

Também, se a criança não teve acesso a modelos familiares bem delineados, em relação a por exemplo, falar sempre coisas que “combinam” com a realidade , ou seja, pais que não enfatizam a verdade , quer por serem muito permissivos ou até darem modelos contraditórios de comportamento, ela aprenderá que mentir não é um problema, mas uma forma alternativa de evitar enfrentar situações desagradáveis ou problemáticas.É o caso de sugerir a filho que diga ao professor que ficou doente e por isso na fez a lição quando na verdade não fez porque não quis ou foi passear, etc. Essa é a chamada de “mentira utilitária”, onde há uma vantagem a curto prazo em se enganar os outros.

Cabe aos familiares fazer com que as crianças percebam as vantagens de conquistar a sua confiança,percebam que é bom falar sempre a verdade, mostrando o quanto se é valorizado socialmente por essa atitude. Com carinho, equilíbrio ,diálogo e exemplos se ensina que dizer a verdade é o certo, e que a fantasia também tem seu lugar reservado, mas que o real não pode ser omitido. A intolerância e pouca compreensão do adulto, em pouco ajudam nesse assunto, pois castigar a criança por ter mentido não resolve a situação nem evita que ela se repita. O melhor é chamar a atenção do pequeno que mente, mas não insistir ou exagerar na importância do assunto.

Admitir que a criança pode estar mentindo e procurar ir atrás das razões desse comportamento, pode trazer grandes benefícios à sua formação e é algo que os pais não podem deixar de fazer, por mais que se sintam tentados a defender sua criança. Na verdade, protege o filho, quem o ensina a viver com a sua realidade, seus recursos e incentiva que crie novos meios de vencer as adversidades, as dificuldades, se tornando forte, coisa que a mentira não faz em idade alguma.

Irene Maluf

porIrene Maluf

Preocupações Com a Escola

Ao final do 3º bimestre de cada ano, quem tem filhos em idade escolar começa a ficar paulatinamente mais preocupado com a questão das avaliações, pois um boletim repleto de notas abaixo da média, já pode sinalizar a possibilidade real de retenção. E como ninguém deseja que o filho repita a série, todas as possibilidades cabíveis para “salvar o ano” começam a surgir nas conversas familiares. Afinal, o que fazer?Colocar a criança ou o jovem em uma série de aulas de reforço?Aumentar as exigências, diminuir as horas de lazer? Dar castigos, fazer promessas de presentes, viagens ou ameaçar de retirar tudo isso?

Apesar de todo mundo saber que esse problema pode ser evitado se a questão for administrada desde o primeiro mês de aulas, existe uma tendência para dar aos filhos o chamado “voto de confiança” ou seja, atender ao desejo da criança para gerenciar por si o resultado de seu empenho nos estudos. Como esse pedido vem normalmente acompanhado de promessas aos pais de que farão de tudo para não os decepcionar e estes, vendo tamanha demonstração daquilo que julgam ser um sinal de responsabilidade, quase sempre acreditam e cedem. De fato, em muitos casos, a criança e o adolescente não estão mentindo, ou tentando conseguir menos pressão familiar sobre seu trabalho escolar, mas convenhamos que todo adulto sabe que é preciso maturidade e autocontrole para ser conseguir seguir um planejamento a longo prazo.

Acontece que quanto mais nova a criança, mais ela precisa de modelos, de orientações, normas claras e principalmente, de permanente supervisão de seu trabalho escolar, para moldar seu comportamento e gradativamente adquirir recursos internos de organização, que lhe permitirão desempenhar a contento as exigências escolares: fazer e cumprir uma agenda diária,estudar em local e modo adequado e respeitar horários pré estabelecidos para estudo, fazer e entregar tarefas no prazo, se preparar devidamente para as provas, procurar ajuda caso precise e no momento em que surgirem dúvidas, etc.

Isso sem contar com a manutenção da motivação que depende em muito do apoio da família, dos professores, dos resultados de todo esse esforço e inclusive de maturidade do sistema nervoso. Tarefas dessa grandeza só são assimiladas depois de alguns anos de treino supervisionado e mesmo assim, mesmo quando já adolescentes, responsáveis e capazes de gerenciar sua vida acadêmica, ainda necessitam que os pais conversem rotineiramente com eles sobre essas questões, pois a multiplicidade de estimulações da atualidade representam um distrativo muito forte mesmo para os melhores alunos.

Mas o que fazer se a criança não teve esse tipo de aprendizado ao longo da sua escolaridade?Correr e achar professores particulares pode ser uma solução paliativa que trás resultados se as dificuldades forem pontuais, em um assunto ou até mesmo disciplina.

Mas se apesar dos reforços escolares e de um acompanhamento particular, as notas permanecerem baixas ou o desinteresse da criança persistir, o mais indicado é buscar ajuda com um profissional, preferencialmente um psicopedagogo, que irá buscar as causas do problema e estabelecer uma rotina de estudos mais personalizada para a criança. Um número muito grande de alunos nessa situação tem dificuldades de aprendizagem e por si mesmos não conseguirão superá-los.

Enganam-se os pais, que ao verem o filho demonstrar inteligência e competência para jogos por exemplo, pensam que se trata de preguiça e má vontade o mau desempenho da criança na escola. Crianças com dificuldades de aprendizagem respondem por um grupo enorme de causas e sintomas, que podem refletir baixa motivação, problemas emocionais, falta de conhecimentos prévios, má adaptação ao método de ensino da escola, problemas de socialização, mas todas são inteligentes e seus problemas se refletem apenas na aprendizagem formal , pelo tipo peculiar de exigência que essa promove.

Mais importante que solucionar as notas baixas no 3º bimestre, é resolver a causa desse problema, que entre outras coisas afeta a auto estima das crianças e a harmonia familiar.

Irene Maluf

porIrene Maluf

Mau comportamento infantil

Algumas variáveis determinam o comportamento de uma criança: seu temperamento, idade cronológica e seu desenvolvimento emocional, físico e cognitivo, além dos sentimentos de segurança emocional, autoimagem e, é claro, a sua história de vida.

Há a idade certa para determinados comportamentos, pois estes são a forma de comunicação com o meio ambiente, uma espécie de resposta aos estímulos recebidos e elaborados pelo sistema nervoso. A birra, por exemplo, é natural nos dois ou três primeiros anos de vida, pois a criança tem dificuldade em lidar com a frustração devido a sua imaturidade, inclusive neurológica.

Além disso, treina sua identidade e autonomia como em um jogo, que cabe ao adulto compreender e conter quando necessário. Mas com o passar do tempo, comportamentos desse tipo passam a ter outras conotações e influenciam na qualidade de vida, aprendizagem e socialização da criança.

Nos primeiros 36 meses, o temperamento infantil rege o comportamento, ou seja, há crianças por natureza mais calmas, mais acessíveis e outras que têm menor tolerância à contrariedade, mais dificuldades de adaptação a rotinas, regras, comandos. Mas a formação gradual de sua autoimagem, a percepção de valor que a criança atribui a si mesma, o ajustamento às normas familiares, as crenças incutidas pelas vivências e exemplos familiares, o amadurecimento do sistema nervoso, as novas experiências físicas, mentais e sociais vão fazer com que comece a se comportar de maneira mais equilibrada, porém ainda instável, que varia muito no quanto se sente querida, aprovada ou rejeitada.

Não se perceber amada, aceita, pertencente ao grupo familiar faz com que a forma de tentar alcançar um pouco de atenção nem sempre seja a mais conveniente. O problema é que, muitas vezes, esse sentimento dos filhos é uma surpresa para os próprios pais, que acreditam estar demonstrando seus cuidados, seu amor incondicional e sua confiança em suas crianças. Assim, crianças e adultos se baseiam em crenças errôneas para tentar obter aprovação!

Claro que há comportamentos inadequados promovidos pela impulsividade infantil, cansaço físico e mental, doença ou incapacidade de vencer a frustração, mas de modo geral podemos, a partir dos estudos de Dreikurs, entender quatro classes de objetivos errados na educação e comunicação com nossos filhos:

1) ATENÇÃO NEGATIVA

Se a criança percebe que com seu mau comportamento deixa o adulto irritado, preocupado ou culpado, ela vai se comportar sempre assim, pois consegue, de alguma maneira, a atenção (ainda que negativa) deles! E atenção é sinônimo de amor, valorização.

2) PODER NEGATIVO

É uma forma de autovalorização perigosa, pois dá margem a tentar obter o controle sobre o adulto de modo muito incerto. Em geral os conflitos gerados são duradouros e deixam marcas afetivas na criança e no relacionamento com os pais.

3) VINGANÇA INFANTIL

Promove satisfação compensatória quando a criança se sente desvalorizada. Compreender onde erramos e mostrar-lhe nossos sentimentos ajudam a vencer suas frustrações e a se comportar de outra forma. Ignorar a má conduta e sugerir novas tarefas, as quais sabe-se que a criança se sairá bem, em geral resolvem.

4) DESISTÊNCIA OU INCAPACIDADE ASSUMIDA

Desânimo e desencorajamento fazem com que a criança busque sempre o fracasso como modo de obter atenção e o expressa com comportamentos que confirmam essa crença dos pais. Portanto, valorizar-lhe o empenho e crescimento é uma forma de mudar a situação.

Nunca é demais lembrar que pais excessivamente autoritários criam filhos introvertidos, com reduzidas condições de decisão, baixa autoestima, mas também desafiadores, conflituosos, rebeldes, pois copiam a linguagem paterna.

Pais muito negligentes em relação a normas e regras criam filhos igualmente despreparados para a vida autônoma: apesar de geralmente parecerem ser independentes, eles sofrem com a sobrecarga emocional que as decisões precoces obrigam. E se comportam igualmente mal, para conseguir atenção e segurança com as respostas dos adultos.

Esse conhecimento é útil para que os familiares consigam entender que grande parte dos problemas que enfrentam com o comportamento dos filhos advém de seu próprio comportamento. É preciso aprender a lidar, ensinar e manter um ambiente de segurança emocional, harmônico, com regras e consequências claras ao seu não cumprimento.

Crianças precisam desses cuidados para desenvolver comportamentos adaptativos positivos, maturidade, responsabilidade e autocontrole. Condutas desajustadas na vida familiar e social repercutem na escola e no aproveitamento pedagógico. E podem sugerir aos leigos problemas de neurodesenvolvimento, que na verdade são apenas comportamentais.

Uma mudança na forma de perceber a mensagem embutida no comportamento infantil é a melhor maneira de avaliação, antes de qualquer outra providência.

 

Fonte: Site Revista Psique – Por Maria Irene Maluf / Adaptação Web Rachel de Brito