Ainda que a escola tenha surgido de modo rudimentar, por volta do século XV até o século XVII, a socialização da criança e a transmissão de valores e de conhecimentos não eram garantidas às suas famílias, mas sim por outros adultos com quem cedo passavam a viver e a servir.
Somente no século XIX surgiu a escola como uma instituição de ensino, que procurava de certa forma garantir um lugar diferenciado para a infância dentro da sociedade, preservando-a da vida adulta, as disciplinando e oferecendo subsídios para sua formação moral e cognitiva. (Philippe Ariès, 1986).
A escola é na atualidade, e em quase todo o mundo, uma das instituições mais amplamente difundidas e de reconhecida relevância enquanto mediadora da incorporação das novas gerações ao meio social, cultural e laboral. Seu objetivo maior, outorgado e compartilhado pela sociedade que a constituiu, resume-se particularmente em educar a criança, ou seja, torná-la gradativa e hierarquicamente autônoma, capaz de produzir e contribuir, exercer seus deveres e direitos e desempenhar adequadamente seu papel social de cidadã.
Entretanto, as escolas foram em boa parte mudando seu perfil enquanto prestadoras de serviços e, a partir do momento histórico em que a educação passou a ser vista como um investimento, o fracasso escolar maciço, passou a ser compreendido como um problema social (Perrenoud, 1999).
Olhada desta forma, tal instituição, especialmente criada para educar as novas gerações e assim garantir a própria perpetuação da sociedade, não pode conviver com o fracasso, pois este simboliza simultaneamente o insucesso – da escola e da sociedade – em seus objetivos maiores.
De modo muito simplificado, podemos dizer que existe fracasso escolar quando a escola não consegue fazer com que todos os seus alunos, ao longo do processo acadêmico, desenvolvam adequadamente suas potencialidades, ou seja, aprendam.
Mas a complexidade desse processo exige longa reflexão, pois diferentemente da escola de outras décadas, hoje essa instituição não pode mais fechar os olhos para as diferenças individuais dos aprendizes e muito menos ignorar aqueles que apresentam formas e necessidades especiais de aprender.
Decorrente desse viés de pensar a questão, o logro da instituição escolar passa a ser mensurado pelo número de reprovações e de suas consequências diretas e nefastas (entre elas, a evasão escolar), pois há a inequívoca constatação de que existe um número considerável de alunos, que mesmo presentes nas aulas, submetidos às situações de aprendizagem planejadas e oferecidas, não aprende, não se beneficia e, portanto, a escola não cumpre seu papel social.
Esse pensamento nos coloca frente a frente com outra questão ambígua e bastante atual, decorrente da anteriormente citada, que é aquela na qual, o aluno, mesmo não tendo adquirido um nível adequado de instrução, caminha para a obtenção – e obtém – seu certificado, que em última instância o qualifica, ou seja, o sucesso escolar se torna patente, legitimado, mas o sucesso educativo, da aprendizagem, não se confirma. Não será este sim, o verdadeiro insucesso escolar?
Enquanto profissionais da educação e da psicopedagogia, não podemos nos prender apenas a tentar identificar, explicar ou justificar o aparecimento do fracasso escolar, mas temos que ir mais adiante e buscar soluções para esse tipo peculiar e impactante de problema, de intrincada complexidade histórica, social e cultural.
Não encontramos ainda respostas à maioria das questões, mas acreditamos que apenas no momento em que o aluno na sua individualidade, seja considerado o verdadeiro agente de sua educação acadêmica, contando com a mediação constante de professores especialmente habilitados a lidar com alunos portadores ou não de diferenças mais ou menos acentuadas de aprendizagem e dentro de uma sociedade inclusiva, o sucesso educativo e escolar poderão ocorrer simultaneamente em todas as escolas e para todas as pessoas. Esse é o verdadeiro desafio!
REFERENCIAS BÀSICAS
ARIÈS, P. (1986). História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
PERRENOUD, Ph. (1999). Construir as Competências desde a Escola. Porto Alegre:Artmed Editora(trad. en portugais de Construire des compétences dès l’école. Paris : ESF, 1997, 2e éd. 1998).
MONTAGNER, H. (1998). Acabar com o Insucesso na Escola – A Criança, as suas Competências e os seus Ritmos. Lisboa: Instituto Piaget.
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