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Um pouco sobre Dislexia

porIrene Maluf

Um pouco sobre Dislexia

Ler e escrever são necessidades básicas do ser humano, pois além de serem fundamentais para o acesso e aquisição da maioria dos conhecimentos de nossa cultura, tornam a pessoa intelectualmente independente.

Ao aprender a ler e escrever, a criança nasce novamente: se antes nasceu para a vida, agora nasce para viver no mundo da cultura.

O domínio da leitura está ligada a vários processos que se associam para que seja possível ler e compreender o que se lê e esses dependem de diferentes condições neurológicas e sensoriais, como a capacidade cognitiva, viso e percepto-motora, das funções executivas, da atenção e concentração, da consciência fonológica e ortográfica, entre outras.

Apesar de se tratar de uma habilidade muito complexa, a maioria das crianças adquire facilmente tal capacidade quando submetida a condições de estimulação cultural. Entretanto, existe uma parcela significativa de alunos que apresenta grandes dificuldades na aprendizagem da leitura e escrita, apesar da escolaridade e estimulação adequada.

Podemos compreender a ansiedade dos pais em torno do sucesso escolar de seus filhos e principalmente em relação à sua alfabetização, da mesma forma que entendemos sua angústia e perplexidade quando a criança se mostra incapacitada a acompanhar a escolaridade, como o fazem seus coleguinhas de mesma idade.

A dislexia não é uma doença, mas sim um transtorno no neurodesenvolvimento e mais especificamente um transtorno de aprendizagem, cujos sintomas podem ser percebidos desde a pré-escola e o diagnóstico é geralmente concluído, quando a criança alcança os oito ou nove anos de idade.

A dislexia é caracterizada fundamentalmente pela presença de grande dificuldade para a aquisição da leitura, geralmente acompanhada por idêntica problemática em relação à escrita, quando não existe atraso cognitivo, problema psicológico de porte ou deficiência sensorial que justifique tal transtorno. A maioria das crianças disléxicas sofre com os freqüentes fracassos escolares, os quais geram o rebaixamento da auto-estima e, conseqüentemente, levam a comportamentos que variam da apatia à agressividade, tornando a vida escolar e familiar muito desgastante.

È frequente o bullying na vida escolar dos disléxicos, assim como a evasão escolar, a baixa autoestima e os problemas familiares, pois como são crianças inteligentes, os pais tendem a pensar que se trata de negligencia, preguiça, má vontade.

Estudos e pesquisas atuais têm demonstrado que a dislexia é congênita, afeta mais os meninos do que as meninas e tem apontado para uma transmissão hereditária.

Os sintomas da dislexia podem ser em parte superados com o acompanhamento profissional adequado, permitindo à criança cursar normalmente a escolaridade regular, do ensino fundamental à graduação ou pós-graduação, dependendo de fatores individuais.

É possível perceber alguns sinais de risco para a aprendizagem da leitura e escrita desde os quatro anos de idade. Essa percepção precoce é importantíssima no encaminhamento da criança aos profissionais especializados em tal diagnóstico (psicopedagogos, neurologistas) a fim de evitar que os danos conseqüentes à baixa auto-estima e os problemas escolares comecem a se instalar.

Recomenda-se começar um trabalho de estimulação sobre a transição natural da fala à leitura e escrita. Aguardar que a criança supere por si as dificuldades pode ocasionar outras questões que apenas complicarão a sua problemática.

Alguns sintomas podem chamar a atenção dos pais e professores, quando freqüentes e mais intensos do que o esperado para a idade. Citaremos alguns deles, de acordo com a faixa etária, embora não se esgotem aqui as possibilidades necessárias para o diagnóstico profissional.

 

Crianças entre 4 e 6 anos:

·a omissão, inversão ou a confusão de fonemas;

·vocabulário empobrecido;

·dificuldade na expressão oral;

·baixo nível de compreensão da linguagem;

·dificuldade em aprender a diferenciar cores, formas,tamanhos, posições;

·problemas de lentidão motora e

·atraso na aquisição de conhecimento do esquema corporal, orientação e seqüenciação.

 

Crianças entre 6 e 9 anos:

·Permanecem ou aumentam as inversões, confusões, trocas e omissões de fonemas;

·O vocabulário passa a ser cada vez mais empobrecido em relação à faixa etária e escolaridade alcançada;

·Na leitura, geralmente silabada, hesitante e mecânica, é freqüente a presença de confusão entre letras, como por exemplo entre: a/o; a/e; u/o; b/d; p/q; u/n, assim como aparecem omissões, inversões e adições de sílabas nas palavras lidas, o que dificulta ainda mais o entendimento do texto;

·Na escrita percebem-se confusões de letras semelhantes pelo som ou forma;

·Há omissões e inversões de letras, sílabas ou palavras, que persistem apesar do treino ortográfico; é freqüente a escrita de letras ou símbolos isolados em espelho e

·A escrita e a estruturação das idéias são confusas.

 

Crianças com mais de 9 anos:

·Dificuldade na estruturação das frases;

·Inadequação no uso dos tempos verbais;

·Dificuldade persistente na compreensão da leitura,assim como na expressão oral e escrita;

·Escrita muito irregular, com incorreções ortográficas, semântica e sintática;

·Transparecem as dificuldades às outras aprendizagens escolares que tenham como base a leitura e sua compreensão;

·Negam-se ou evitam ler, principalmente em voz alta;

·Compreendem melhor o que é lido para eles do que o que lêem e

·Como se cansam devido ao esforço mental, escrevem mais devagar e sua caligrafia pode ser muito irregular.

 

Infelizmente, raramente as crianças superam por si só esses problemas relacionados à leitura e escrita. Precisam de profissionais especializados por um período de sua escolarização e quanto mais cedo for iniciado esse atendimento, menos complicações serão desenvolvidas, tanto no âmbito escolar, como no emocional e social.

Espera-se da escola que tenha sensibilidade à questão e busque atualizar seus conhecimentos para detectar os sintomas sugestivos dislexia. Comunicar adequadamente aos pais suas suspeitas, incentivando o encaminhamento para o diagnóstico clínico, apoiar e adotar as condutas orientadas pelos profissionais especializados como ensino personalizado, avaliação adaptada e maior compreensão do comportamento e necessidades da criança disléxica.

Lembrar-se que promover a integração social através do respeito e do conhecimento das particularidades de aprendizagem das crianças dislexicas, visando melhorar a imagem negativa que em geral esses alunos têm de si próprios, é uma ação importante no sentido de os incentivara superarem suas dificuldades.

Orientar a família no trato com seus filhos com transtornos de aprendizagem e estimular os professores a se aperfeiçoarem nos conhecoimentos sobre esse trastorno é primordial.

Irene Maluf

 

 

Sobre o Autor

Irene Maluf editor

Pedagoga; Especialista em Educação Especial; Psicopedagogia e Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia -ABPp (triênio 2005/07) e Editora da Revista Psicopedagogia (2003 a 2016); Atualmente é membro do Conselho Vitalício e da Diretoria Executiva da ABPp além de participar do Conselho Executivo da Revista Psicopedagogia.Organizadora, co-organizadora e co-autora em diversas publicações no Brasil e Exterior e autora de artigos na área da Psicopedagogia e Neuroaprendizagem em livros e revistas nacionais e internacionais.Palestrante em cursos e congressos no Brasil e no exterior. Sócia-Honorária da Associação Portuguesa de Psicopedagogos (2003). Trabalha em consultório de psicopedag ogia desde 1976, com experiência na área de Educação Regular e Especial, ênfase em Psicopedagogia e Neuroaprendizagem. Participa de grupos multidisciplinares .Perita Judicial . Diretora do Núcleo de Aperfeiçoamento Profissional em Psicopedagogia e Neuroaprendizagem Irene Maluf. É Coordenadora Pedagógica dos cursos de pós graduação Lato Sensu do Instituto Saber Cultura/FTP- Núcleos Sul e Sudeste Brasileiro- em Neuroaprendizagem, Transtornos do Aprender, Psicomotricidade, Cognição e Psicopedagogia, desde 2009 e do Mestrado em Ciencias da Educação da FTP/Unades.

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