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porIrene Maluf

O erro ensina

Vivemos em uma época aonde tudo parece sobreviver à base de rankings:
você só recebe elogios se é o mais forte, o mais bonito, o mais sarado, o
mais inteligente, o que ganha mais, o que sorri mais nas redes sociais, tem
mais amigos, só para enumerar algumas das classificações comuns que a
sociedade impõe, pressiona e cobra de crianças e adultos.

Sabemos que uma página com escrita impecável é na maioria das vezes,
precedida de vários rascunhos. No caso do computador, de várias
autocorreções.


É normal, aceitável, esperado, que o acerto seja a superação do erro. O
problema é que esquecemos que via de regra aprendemos a ver os
contornos das coisas não pela luz que nelas incide, mas pela sombra
produzida e aprendemos o caminho mais exitoso quando sabemos aonde
erramos.


Mas hoje, errar é tão dramático que os pais correm para fazer lições de
casa pelos filhos, para que as exibam sem erros, como se a professora não
soubesse reconhecer o padrão de trabalho da criança que tem a sua
frente durante horas toda semana.


Se o filho esqueceu o celular em casa, pais correm para o levar na escola,
como se não houvessem telefones fixos ou se fosse impossível localizar a
criança por outro meio. Deixar o filho entender que ele é o responsável se
esquecer algo, sentir o desconforto da falta deste ou daquele objeto,
passar por momentos de desassossego, tendo que reconhecer que foi
descuidado, nem sonhar!


Segundo esse modo de pensar ,deixar a criança se frustrar é uma tragédia
não a educa, mas tira a ilusão de ser “o cara” a todo instante, o que
reafirma a máxima da década: “meu filho nasceu para ser feliz”, o que na
pratica significa : não ter limites, não esperar, não “receber” notas baixas ,
não ser chamado a atenção, não ter que se adaptar ao meio , já que
obviamente são as outras pessoas e o ambiente que devem se render a
esse ser tão especial.

Dizer a esse tipo de pais que o filho errou , provoca um tsunami
ideológico, sem base alguma na realidade :nascer para ser “feliz”, pior que
conto de fabulas não permite que a criança participe legitimamente dessa
construção ,justamente moldada através de erros que devem ser vistos e
revisitados para , percebendo o contraste das situações, dos pensamentos
e sentimentos, o indivíduo venha apreender , ter consciência da falta e da
plenitude , sinta motivação, determine objetivos e desenvolva a
resiliência.


Ao se prender ao acerto permanente , a sociedade acabou por se tornar
irracional em relação ao imenso valor do erro: a educação , tanto familiar
como a que vemos na escola é frequentemente focada no erro, mas não
no erro calibrado pelas oportunidades que pode criar , mas pelo seu valor
negativo, somente os apontando como algo a ser evitado a todo custo,
escondido, apagado e não como ponto de partida para o crescimento.


As vezes a escola até parece partir do princípio que a melhoria ocorre
quando se cria insatisfação. Prever erros, aponta-los, fazer deles o
instrumento que afere o rendimento, é quase parte de um rito
educacional, que por mais que mudem os tempos, permanece rançoso nas
nossas escolas.


O aluno recebe sua avaliação, sua nota não pelos acertos, mas pelos erros.
Uma resposta muito bem redigida, que demonstre compreensão e
trabalho intelectual da criança, deveria valer muito mais que um erro
cometido em outra questão. A avaliação escolar, cursa em muitas escolas
ainda hoje, comparativamente a qualquer planilha financeira à qual venha
a ser comparada.


Assim, são os erros e não o esforço, o acerto que determinam o valor do
aluno e rapidamente pais e filhos assustam-se com o risco sempre
eminente de cometer um erro, portanto há de se evitar a todo custo
circunstâncias aonde é frequente errar, e a escola é uma delas.
Situações contraditórias são desencorajadoras: de um lado evitamos
desde cedo que as crianças se frustrem com situações corriqueiras e de
outro cobramos seus erros como se estes fossem o espelho do valor da
criança.


Sentindo-se limitados, diminuídos, inseguros frente a condenação por
suas falhas, crianças e jovens são ao mesmo tempo envolvidos pelas exigências dos rankings mais desafiadores. Ao invés de terem motivação
para pensarem em como fazer de modo diferente e buscarem o acerto, e
o sucesso de modo criativo, se acomodam pelo desvelo ou incriminação
excessiva da família. Uma acoberta ficticiamente o erro, a outra o
perpetua.


Errar faz parte do jogo, mas não pode ser o próprio jogo e nem a essência
do jogador. Errar faz parte do acerto, assim como é a sombra que
determina a qualidade da fotografia. O mérito de uma pessoa em
qualquer idade não pode ser mensurado por um desempenho mais ou
menos brilhante pois esses parâmetros dependem de inúmeros fatores
externos, inclusive o objetivo e preferencias pessoais de cada qual.
Ninguém admira tanto as pais quanto os filhos e é para eles que a criança
estabelece a sua primeira luta por aprovação. Se suas dificuldades são
tratadas com respeito e amorosidade, incentivo e senso de realidade,
terão uma oportunidade muito mais real de supera-las.


Mas por vezes os pais, ate por vaidade, determinam padrões quase
inatingíveis para a criança: afinal que diferença faz na prática saber ler aos
4 anos? Ao entrarem no ensino fundamental, terão que voltar a passar
pelo mesmo processo, mas já desmotivados pela falta de estímulo frente a
maioria dos colegas a quem não vão superar a não ser momentaneamente.


Assim também, muitos pais se desesperam ao perceberem que o filho não
tem interesse especial para os esportes e nem por ganhar medalhas ou ir
a olimpíada e agem como se fossem traídos pela vida que em uma
segunda chance não lhes deu essa oportunidade pessoal.


Amamos nossos filhos e alunos, mas podemos não apreciar um ou outro
comportamento deles. Entretanto, estimular e dar oportunidade de
perceber o erro como uma ocasião de crescimento, é educar realmente
para a busca pelo acerto, felicidade emocional e a Saúde Mental.

porIrene Maluf

Comportamento desmotivador

Críticas e comparações, não indicam novos caminhos, não ajudam a melhorar a performance e nem tornam as crianças e jovens mais fortes e determinados para enfrentar e superar as próprias frustrações.

Comparar é de modo geral, relacionar sejam coisas animadas ou inanimadas, concretas ou abstratas, da mesma natureza ou que apresentem similaridades, para conferir as semelhanças ou diferenças que entre elas existem.

Constitui uma das operações mentais mais importantes, que nos permite
desenvolver a aprendizagem e adquirir conhecimentos e comportamentos cada vez mais complexos, fazer escolhas inteligentes e instrumentaliza-nos a sermos capazes de optar por aquilo que nos favorece.

Assim, é desejável que se aprenda a comparar e que se ensine às crianças a
usar essa ferramenta mental que pode ser um guia seguro em diversas
situações de desafiadoras ao longo do desenvolvimento: quem não compara, não classifica e quem não classifica, não analisa, não sintetiza, não compreende, não transfere saberes e competências a novas situações.
Mas nem sempre a comparação é de ordem objetiva, principalmente se
falamos sobre relações humanas, em que a subjetividade é um campo comprometido por experiências passadas e pelo viés da personalidade de cada um.

Nas relações humanas, quando a comparação é realizada sob emoções
descontroladas, acaba por servir de estopim para o surgimento de muitos
percalços no desenvolvimento de valiosas habilidades latentes, que terminam por se perder. A comparação nesse caso torna-se, uma crítica não construtiva e fonte de sofrimento emocional que se desdobra em baixa autoestima e problemas comportamentais em adultos e principalmente nas crianças.

O Ser Humano é de natureza física, mental emocional intricadas, possui
características individuais, que constituem seu diferencial no mundo e
distinguem do outro sem que perca, entretanto, a humanidade que o une aos semelhantes, como espécie, esteja em qual cultura estiver.

Pode-se dizer que é dessa complexa interrelação entre as semelhanças e
diferenças das pessoas, adultas e crianças, que se embasa boa parte dos
desafios educacionais em todos os aspectos e níveis em que se pratica, desde o familiar, ao acadêmico, ao social, ao mundo profissional, entre outros que as pessoas vão estabelecendo durante o desenrolar da vida.

Um cuidado maior se deve ter quando as relações são familiares e se dão
entre pais, professores e crianças, pois é a partir dessa fase inicial que s
desenvolverão as potencialidades de cada um ou se criarão barreiras ao seu crescimento saudável.


É inevitável, nós adultos pensarmos em termos de comparação, até porque
muito do que aprendemos foi, e é construído mentalmente por comparação e exclusão. Quando se tratam de objetos ou situações quantificáveis, objetivas, em geral só obtemos vantagens usando dessa operação mental tão estudada pela psicologia e pela educação. Mas nos relacionamentos familiares, na educação infantil, a questão passa por importantes crivos como a motivação, a frustração, as expectativas e o potencial de cada um.

A frustração por exemplo, que advém da diferença entre nossa pretensão e o resultado obtido, deve ser compreendida pelo adulto sob um olhar pessoal e não na relação com o outro, principalmente se tratando de crianças que são seres em desenvolvimento e para quem críticas familiares são parâmetros poderosos. Uma derrota inesperada, notas baixas, uma repetência já anunciada, uma decepção que seja mal trabalhada pela família, pode implementar uma imagem negativa que a criança projetará de si mesma, de sua capacidade pessoal para o desempenho escolar por exemplo.


O papel que os adultos exercem em relação aos filhos, não é de forma alguma o de aplaudir sempre, elogiar sem motivos, mas o cuidado deve ser
semelhante ao fazer críticas e comparações com outros, especialmente
quando as suas próprias aspirações pessoais não forem atingidas pelos filhos.


Não se pode projetar mentalmente e exigir na prática, que teremos em casa um campeão esportivo ou o aluno com as melhores notas da classe e cobrar isso de nossos filhos. Devemos os incentivar a alcançar o seu melhor, através do estimulo ambiental, da oportunização de experiências valiosas, da motivação, da atenção diária, do apoio material e emocional e depois receber com tranquilidade o resultado de seu esforço, sem elogios vazios, sem frustra-la ou magoa-la, através de comparações com nossos padrões pessoais ou com a performance de outras crianças. Devemos ter em mente que comparações negativas causam mágoas, ressentimentos, marcas importantes e indeléveis especialmente quando são oriundas da opinião das pessoas que mais amam e querem agradar nesse mundo: seus pais.


A própria desmotivação escolar, muitas vezes se origina nas comparações
entre irmãos ou mesmo coleguinhas, feitas de modo pouco adequado pelos
adultos. É necessário haver um referencial positivo sim, mas guardado o
respeito pelo potencial particular e fatores ligados a individualidade e história de vida de cada um, sob o risco de gerar um sentimento de inadequação pessoal altamente impactante em novas tentativas de acerto.


A crítica, que é produto da comparação mal dirigida, leva a um movimento de afastamento entre pais e filhos: enquanto os primeiros, decepcionados e
frustrados nos seus desejos pessoais se lastimam, os segundos sofrem
duplamente a derrota, por sim mesmos e pelos seus familiares que frustraram, gerando culpa, medo, desânimo.

A experiência mostra que adultos frustrados, que desejam alcançar através dos filhos seus próprios sonhos perdidos, criam uma cadeia infinita de fracassados.

Mas também nos ensina que adultos equilibrados fazem críticas positivas e
comparações motivadoras aos filhos, estimulam e apoiam as crianças a se
empenharem sempre e apontam para a importância de serem bem-sucedidas na medida de suas potencialidades, no que particularmente desejam e tem habilidades pessoais.

porIrene Maluf

Papel ou Tela

A cena é comum: bebês, ainda de fraldas, com um celular ou tablet em mãos, passam agilmente os dedinhos nas telas, enquanto seus olhos brilham de alegria, fixos nas imagens que se sucedem. Depois, assistem desenhos, posteriormente curtem joguinhos e anos depois, começam a digitar as primeiras letrinhas nesses mesmos teclados, até porque algumas escolas estimulam e muitos pais aprovam incontinente.

Hoje, para muitas crianças, a tela é apresentada antes do papel. Um lugar onde o dedo faz (aparentemente) mais que o lápis e o prazer encontrado em esforço à frente de um eletrônico, pode ser (e geralmente é) muito maior do que diante de um livro, um caderno, uma lousa. Não raro, crianças pequenas passam os dedos sobre revistas impressas esperando que as imagens mudem. É uma forma de descobrir o mundo, que quando são é única, é enriquecedora.


A própria internet, quando bem utilizada, é uma janela aberta para o conhecimento, e a educação pode tirar muito proveito desse fato, desde
que treine as crianças para a filtrarem informações, sintetizá-las, refletir
sobre elas antes de as utilizar. Temos assistido grandes projetos pedagógicos serem desenvolvidos por alunos de locais remotos e professores com poucos recursos materiais podem se cercar de riquezas virtuais inimagináveis por meio da internet. Quantas novidades e cursos estão ali a um “clic”!


Surgiu há algum tempo, entre alguns educadores, a ideia de trazer às escolas, mesmos às infantis, o uso de computadores e tablets de uma forma a substituírem o papel inclusive na hora da alfabetização. Isso gerou uma infinidade de dúvidas entre profissionais e especialistas, pois embora se reconheça a importância da contribuição que a tecnologia digital nos trouxe enquanto educadores, psicopedagogos e afins, também sabemos que todo exagero costuma trazer mais prejuízos do que benefícios a longo prazo. A solução é buscar nos estudos e pesquisas sérias, algumas respostas que norteiem a aplicação desses recursos de forma a otimizar a aprendizagem de todas as crianças, com e sem problemas de aprendizagem, na escola e nas clínicas.


A luz de vários trabalhos, como citaremos alguns, percebemos que a escrita à mão, aquela com que a maioria quase total dos humanos hoje vivos, se alfabetizou e para a qual nosso sistema nervoso se adaptou ao longo dos séculos, pode não ser a única possível, mas ao ver de muitos esquisadores de renome internacional parece ser, o melhor meio de alfabetização.


Ninguém aqui está falando de caligrafia, letra desenhada: falam de escrita à mão. E não estão de forma alguma desprezando a tecnologia digital, os tablets, computadores, celulares, apenas lhes dando o lugar de riquíssimos recursos pedagógicos, muito úteis se bem utilizados.


Um exemplo importante dessa conclusão é o estudo da neurocientista Karin James, da Universidade de Bloomington nos Estados Unidos, sobre a relação da escrita à mão para o desenvolvimento do cérebro infantil. Ela separou em dois um grande grupo de crianças não alfabetizadas, mas já capazes de identificar letras sem formar sílabas. O primeiro subgrupo foi treinado para copiar as letras à mão e o segundo para copiar no computador.

Entre outros achados, através de ressonâncias magnéticas realizadas, se concluiu que o cérebro responde de forma diferente nos dois tipos de aprendizagem e que as crianças do grupo que escrevem apenas à mão mostraram padrões de ativação cerebral muito similares aos das pessoas já alfabetizadas.


Além disso, os resultados desse estudo indicam que “escrever prepara um sistema que facilitou a leitura quando as crianças começaram a passar por esse processo” segundo a Dra. James. Quanto a habilidades motoras finas aprimoradas ao escreverem à mão o seu desenvolvimento se mostrou benéfico em várias áreas cognitivas.


Outros pesquisadores, como Anne Mangen da Universidade de Stavanger na Noruega, comprovaram que escrever à mão fortalece o processo de aprendizagem, já que as ações motoras fornecem um feedback importante ao cérebro. Além disso, o tipo de esforço para escrever corretamente em uma folha de papel é expressivamente diferente e mais complexo do que o de digitar. Inclusive, existe uma memória motora na região sensório motora do cérebro, criada quando escrevemos, o que é importante no processo de reconhecimento visual durante a leitura. “Pelo fato de a escrita à mão demorar mais que digitar em um teclado, o aspecto temporal também pode influenciar no processo de aprendizagem”, acrescenta a Dra. Anne.


Não podemos esquecer em nossas reflexões, que um aspecto fundamental é que o cérebro humano se desenvolve a partir das trocas com o meio. As crianças aprendem experimentando, tocando, sentindo, vivenciando. Estar com outras crianças, brincar, falar, manipular, sentir, jogar, faz parte do desenvolvimento sadio. Nosso cérebro passa naturalmente por etapas de neurodesenvolvimento aonde as diferentes áreas se desenvolvem em tempos diversos, onde períodos sensíveis e críticos se sucedem e se bem trabalhados e estimulados criam indivíduos cognitivamente muito mais aptos à aprendizagem.


Entretanto, nada sugere que hiperestimulação ou exageros sejam necessários para atingir esse fim, com exceção do caso de crianças com
perdas neurológicas, transtornos de aprendizagem, síndromes, etc. Essas precisam de especialistas e condutas pedagógicas específicas. Entretanto, a grande maioria precisa é de uma vida cheia de oportunidades próprias da idade, de brincadeiras, ar livre, convívio com outras crianças, boas escolas onde o papel, o lápis e o computador, assim como os jogos de tabuleiro, o celular, a massa de modelar, os pinceis, a tinta, a corda, o tablet, a bola e todo o resto , preencham sua mente e seu corpo de oportunidades benéficas e cuidadas de crescimento.

porIrene Maluf

Uma boa noite

Todos precisam de uma boa noite de sono para poder estudar e trabalhar no dia seguinte. O sono é um dos principais processos fisiológicos para a vida. A sua expressão, alternada com a vigília, é circadiana e sofre influência de fatores endógenos, sociais e ambientais (Foster, 2005).

Mesmo sem informações científi cas detalhadas, esse tema relevante já foi muito tratado em diversos manuais de educação infantil de outras gerações e assunto de inúmeros artigos e discussões, até porque uma criança que não dorme bem sempre sinaliza durante o dia as consequências do descanso entrecortado e incompleto, que chama a atenção da família e professores. É uma questão fi siológica que envolve problemas comportamentais e, portanto, educacionais em boa parte dos casos.

Não é de hoje que se percebem os efeitos negativos (de curto e longo prazo) para a saúde física e mental infantil e que afetam diretamente a aprendizagem em qualquer idade: a atenção fica mais oscilante, a memória, menos operativa, a energia física, depauperada, o humor varia, os acidentes são mais constantes devido à falta do necessário controle de impulsos. Na idade escolar, vemos crianças sonolentas ou muito irritadiças na sala de aula, com péssimo relaciona mento social, difi culdade de acompanhar ou produzir adequadamente como seus pares.

Durante o sono, há um processo ativo de consolidação da memória e reelaboração das experiências vivenciadas, assim como a organização cerebral, que elimina o não necessário, consolida aprendizados e prepara o sistema nervoso para as novas aquisições.

Durante a primeira década de vida, as chamadas ondas lentas do sono são cerca de 40% mais presentes do que na adolescência e diminuem naturalmente ainda mais nos adultos, provando a importância de as famílias observarem com igual responsabilidade os horários do sono e a alimentação e higiene infantil.

Por outro lado, observam-se entre crianças com comportamentos como défi cit atencional (TDA) uma marcante relação com relatos familiares de difi culdades no dormir, na qualidade do sono.

As necessidades de sono são individuais, dependem de fatores diversos, se modificam durante a vida, mas, dentro de um padrão cientifi camente aceito como saudável, podemos dizer que: 1) Bebês até os 3 meses devem dormir de 16 a 18 horas ao dia; 2) De 1 a 2 anos devem dormir de 13 a 14 horas por dia; 3) De 3 a 5 anos, 11 a 13 horas diariamente são necessárias; 4) A partir dos 6 anos, de 10 a 11 horas; 5) Entre 12 e 18 anos, uma média de 9h30 ao dia; 6) Adultos: de 7 a 9 horas costumam ser sufi cientes (Ortiz, 2009). Sabe-se que boa parte do comportamento infantil durante o dia, na escola ou no convívio familiar, está ligada à qualidade do seu sono. Infelizmente, hoje estima-se que 30% das crianças com idade até 12 anos apresentam distúrbios do sono. Inclusive, cerca de 40% dos bebês não dormem bem, comprometendo seu desenvolvimento nessa fase tão importante, quando isso ocorre com complicações mais sérias.

Nos cinco primeiros anos de vida há mudanças na duração, na distribuição e no caráter do sono, e vários fatores podem afetar a criança: medicações, doenças sistêmicas, condições ambientais.

A insônia é a disfunção de sono mais relevante, conforme a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Consiste em uma dificuldade de início ou manutenção do sono, despertar mais cedo que o desejado ou difi culdade em iniciar o adormecer sem intervenção dos pais ou cuidadores.

A rotina de sono pode ajudar muito a evitar problemas do sono e deve estabelecer-se precocemente e basear-se em medidas de higiene do sono e condutas educativas: 1) Estabelecer horário, rotinas e rituais consistentes para o sono; 2) Não barganhar a hora de dormir, nem ser condescendente de modo exagerado em fi nais de semana ou mesmo férias: o sono é um hábito biológico que precisa de rotina para se manter; 3) Evitar estimulação física, mental ou emocional perto da hora de dormir; 4) Ler uma história curta, falar carinhosamente com a criança; 5) Evitar oferecer alimentação durante a noite; 6) Evitar dormir com alguma fonte luminosa durante toda a noite; 7) Habituar a criança a adormecer sozinha, sem a presença física do cuidador, especialmente nessa época em que câmeras são de fácil instalação e podem tranquilizar os pais; 8) Não permitir que a criança durma na cama dos pais e sim preferencialmente no seu quarto; 9) Eletrônicos, telinhas de modo geral não devem ficar no quarto das crianças.

Interessante lembrar que estudos da década de 1990, da Comissão Na cional de Pesquisas em Distúrbios do Sono, nos Estados Unidos, já detectavam que os transtornos do sono eram pouco diagnosticados nas consultas pediátricas. E, infelizmente, quando a intervenção ocorre de maneira tardia, o problema pode persistir por anos, tornando-se um problema de difícil solução e múltiplas consequências. Por isso cabe ao pediatra reconhecer os transtornos e buscar o melhor tratamento para curá-los ou, ao menos, minimizá-los, e cabe aos pais a responsabilidade sobre esse aspecto tão importante quanto a alimentação, higiene e educação de seus filhos.

Artigo publicado na Revista Psique Edição 168.